Quando pisar no gramado do Pacaembu para decidir o título da Taça Libertadores, contra o Peñarol, na noite desta quarta-feira, o Santos terá o apoio de um inusitado grupo de torcedores. São os jogadores, dirigentes e membros da comissão técnica do amazonense Penarol. Quase xará do rival santista - falta só o til no N -, o time da cidade de Itacoatiara, situada a 240km da capital Manaus, pôs o clube uruguaio que inspirou a sua criação de lado e deixou as raízes brasileiras falarem mais alto.
Após mais um dia de preparação para a estreia na Série D do Campeonato Brasileiro - marcada para o dia 17 de julho, contra o Cuiabá-MT -, a equipe do Norte se reunirá em frente à TV para passar energias positivas ao time de Neymar & Cia.
- No primeiro jogo (0 a 0 no Estádio Centenário), os dois times tiveram tranquilidade. Como todo brasileiro, vou torcer para o Santos, independentemente de o adversário ter o mesmo nome do Penarol. Espero que eles consigam vencer. O Neymar e a torcida podem fazer a diferença - disse o atacante Charles.
Aos 23 anos, Charles foi o 10 do Penarol no estadual, como Ganso e Martinuccio, principal jogador do Peñarol original. No entanto, é artilheiro como Neymar. Tanto que na campanha do bicampeonato amazonense, conquistado na disputa de pênaltis (4 a 3 após 1 a 1 no tempo normal) sobre o Nacional, no último dia 4, marcou sete gols. Aliás, o estilo de Charles é muito parecido com o da joia santista, pois ele também é adepto do famoso corte moicano que faz a cabeça dos boleiros por todo o território nacional.- O Neymar usou a primeira vez e todos seguiram. Eu fiz esse cabelo e gostei do estilo moicano. Acho que moda é para ser seguida. Vou manter o cabelo assim por muito tempo, porque ele tem me dado sorte - garantiu o atacante.
Mas o 'Neymar' penarolense conhece bem o clube xará uruguaio e também é fã de Martinuccio:
- É um jogador muito habilidoso, que usa bem os espaços vazios e pode preocupar a zaga do Santos. É um típico camisa 10.
O goleiro Rascifran, herói do título estadual ao defender os chutes de Amaralzinho e Vinícius nas cobranças de pênaltis, é outro que está na torcida para o tricampeonato do Santos na Libertadores. Para ele, a conquista da equipe paulista, mesmo a distância, terá um sabor ainda mais especial se tiver uma grande atuação do goleiro Rafael.
- Vou torcer para o Santos, apesar do nome parecido, pois sou brasileiro. Admiro o Rafael como goleiro. Ele é novo e tem um futuro pela frente. Espero que possa ajudar o Santos. O Peñarol uruguaio tem muitos títulos e uma torcida muito forte, mas prefiro que o Santos seja o campeão - contou.
Até o presidente do Penarol, Daniel Macedo, que assumiu a função na semana passada - Ila Rabelo passou a ser vice -, posou com bandeira e camisa do Santos.
- Antes de qualquer coisa, somos brasileiros. É claro que vou torcer para o Santos. O Penarol representa o futebol brasileiro e terá muito orgulho se o Santos for campeão da Libertadores. Tenho certeza de que todo o povo amazonense estará na torcida pelos Meninos da Vila. É uma alegria ver um jogador com o futebol desse jovem Neymar.
Penarol nasce com nome do time uruguaio e cores do Nacional-AM
Assim como Charles e Rascifran, muitos penarolenses também vão torcer pelo Peixe na noite desta quarta. Talvez isso se deva aos mais de 3,5 mil quilômetros que separam Itacoatiara de Montevidéu. A distância física e cultural da capital uruguaia acabou aproximando mais os fãs do Penarol do também brasileiro Santos do que da sua própria matriz. Algo impensável na ocasião da fundação do Leão da Velha Serpa.
Em 1947, após uma excursão do centenário Peñarol original pelo Brasil, que teve direito a viagem de barco de Belém a Manaus pelo Rio Amazonas e parada em Itacoatiara, nasceu o Penarol versão tupiniquim. Apesar do nome igual - embora adaptado à língua portuguesa -, as diferenças entre o time brasileiro, bicampeão amazonense, e o uruguaio, pentacampeão da Libertadores, são maiores do que as semelhanças. A começar pelas cores. Enquanto o time de Montevidéu usa preto e amarelo, o do Amazonas escolheu o azul e branco para agradar também aos torcedores do Nacional, não o do Uruguai, mas o de Manaus mesmo.
- O Peñarol ganhava todas na época e fez excursão por aqui, pois iam jogar em Belém. Eles pararam em Itacoatiara e levaram uma multidão ao estádio onde treinaram. Então, ficamos com cinco opções de nomes para batizar o nosso time: Penarol, Nacional, Portuguesa, Amazonas e Rio Negro. Deu empate na hora da definição. Aí ficou com o nome do Peñarol e as cores do Nacional - explicou disse Ila Rabelo, ex-presidente do Penarol e atual vice de Daniel Macedo Lima.
O dirigente, apesar do coração penarolense, é mais um a engrossar a torcida pelo time da Vila Belmiro.
- Apesar de ser complicado torcer contra um time com o nosso nome, vou torcer para o Santos, que é do Brasil - afirmou.
Jogadores do Penarol comemoram o bicampeonato amazonense conquistado no início do mês no estádio Floro de Mendonça, em Itacoatiara, após vitória sobre o Nacional nos pênaltis (Foto: Divulgação)
Dificuldades para montar o elenco para a Série D
Mas a realidade atual do Penarol está bem longe da badalada decisão da Libertadores. Perto de estrear na modesta Série D nacional, a diretoria do clube encontra dificuldades para montar o elenco, que vem sendo desfeito após a exposição ganha com o bi amazonense, feito inédito para uma equipe do interior do estado.
Até o artilheiro Charles não será mais visto em campo com a camisa alvianil, pois assinou contrato com o rival Nacional. O técnico Uidemar, volante do Flamengo no fim dos anos 80 e início dos 90, também deixou o clube. Ele não chegou a um acordo para renovação e deu lugar a Sérgio Duarte.
E sem desanimar, a diretoria do Penarol tenta suprir as perdas e corre atrás de reforços. O primeiro pode ser Fábio Bala. O ex-atacante de Grêmio e Fluminense foi a Manaus visitar a família e recebeu a proposta do clube de Itacoatiara. Enquanto uns saem, outros prometem lutar pelo sonho de ver o Leão da Velha Serpa definitivamente fora do ostracismo.- O Penarol estava na Segunda Divisão do estadual e subiu embalado. A estrutura que o time tem efetivou a equipe no cenário amazonense. Graças a Deus, conseguimos o título suado. É para ficar na história. O objetivo agora é colocar o Penarol na Terceira Divisão - decretou o goleiro Rascifran.
Fonte: GLOBOESPORTE.COM
