Palmas para o Fracasso

segunda-feira, 30 de abril de 2012 Comments

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“… Críticos dessa ordem logo viram “oposição” e o ato de apontar algo errado vai logo sendo rotulado na categoria dos que não gostam da vila. Esse é mais um ingrediente do “mundo bizarro” manauara, onde tudo é invertido. Elogiar a bagunça e defender o caos vira patriotismo, enxergar o que vai errado vira denuncismo, inveja”.

BRUNO TADEU – D24AM.COM - Emprestei o trecho acima de um texto do jornalista Ismael Benigno, intitulado “Esses de quem não podemos falar”, do blog O Malfazejo, para tratar de um assunto que há tempos venho matutando. Em resumo, torcedores de clubes do Amazonas têm mostrado, por meio das redes sociais, repúdio a todo o tipo de reportagem que critica a desorganização do futebol do Estado.

Antes de mais nada, é preciso reconhecer o torcedor amazonense que não abandona o time do coração, vai sempre aos estádios e faz questão de vestir a camisa do clube. Esse merece total respeito, porque ele mantém esse esporte vivo na região enquanto os clubes e a Federação Amazonense de Futebol (FAF) parecem querer tomar o caminho oposto.

Indo direto na ferida, só do nosso bolso já saíram mais de R$ 10 milhões nas últimas duas décadas direto para o bolso de dirigentes, e o que vimos de lá para cá foram seguidos descensos, fracassos em competições nacionais, partidas de péssimo nível técnico, times com o pior desempenho do Brasil no Estadual e até elenco que passava fome. Sim, nós pagamos caro por isso em diversas vezes nos últimos 20 anos e hoje o futebol amazonense tem como principal trunfo o direito a uma vaga na Série D.

Pra não ficar só nisso, vale lembrar que o atual presidente da FAF, Dissica Valério Thomaz, é também prefeito de Eirunepé e está quase sempre ausente do futebol. Em 2010, quando o América-AM conseguiu heroicamente uma vaga na Série C do Brasileirão dentro de campo, o clube perdeu esse direito logo em seguida, pois utilizou um jogador irregular e foi desclassificado. Ano passado, o tradicional Rio Negro se livrou do rebaixamento no apagar das luzes muito graças à doações de sua pequena torcida. Este ano, o filme se repete.

É melhor parar por aqui, pois lembrar disso pode indignar todos os que pagaram por esse espetáculo de incompetência e negligência que tem sido o futebol desta região. Ou melhor, quase todos. Acredite ou não, tem quem não goste das críticas. Esses defendem que o papel da imprensa é incentivar os leitores, telespectadores ou ouvintes a irem aos estádios. E não é só isso! O que é ruim, precisa ser jogado debaixo do tapete. Se for divulgado, está denegrindo a imagem do futebol amazonense.

Como se não bastasse tamanha incoerência, alguns ainda se dizem contra a administração atual da FAF. Nas redes sociais, claro. Esquecem que ‘bater palma’ para um espetáculo de horrores – numa aparente tentativa de enganar a si mesmos – é o mesmo que ‘bater palma’ para a administração falida e medíocre que está por trás de tudo. Não estou dizendo que não se deve mais ir aos estádios, coisa que muita gente já não faz mais aqui. Apenas observo o paradoxo: não se pode criticar quem tanto é contestado pelos próprios torcedores

Talvez por causa de uma mentalidade como essa, não há renovação no quadro dos dirigentes dos clubes e da federação, que tem gente com mais de 20 anos de casa e todo mundo acha normal. Talvez por isso, este ano quase todos foram a favor da liberação do Estádio Ismael Benigno, a Colina, mesmo com o local em péssimas condições de segurança. Talvez por isso, a média de público do Campeonato Amazonense 2012 foi de menos de 600 pagantes por jogo no primeiro turno, e caiu pela metade no segundo.

Mas acho que até entendo. Reivindicar pelo dinheiro público jogado fora esses anos é algo cansativo. É muito mais cômodo ficar sentado em casa, jogando a culpa na imprensa pelas redes sociais.

Fonte: http://blogs.d24am.com/bolapromato/2012/04/30/77/

 

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