Clubes continuam dependentes do dinheiro público

domingo, 13 de novembro de 2011 Comments

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Diogo Rocha para D24AM
- Com cinco clubes do interior, o Campeonato Amazonense de 2012 será disputado meio a meio. Os outros cinco, da capital, completam a tabela. Esse equilíbrio numérico ocorre pela primeira vez na história da competição. O que não muda é a dependência do dinheiro público para a promoção do torneio. Mas ao invés de organizar a disputa, o recurso do contribuinte é repassado diretamente aos clubes.

A maioria dos dirigentes é unânime: sem dinheiro do Governo do Estado ou das prefeituras do interior, os times não podem contratar bons jogadores  para melhorar o nível técnico dos jogos e, assim, atrair o público para gerar renda. Isso nunca deu certo antes. Mesmo com os milhões retirados do erário em três décadas, as bilheterias do Estadual são deficitárias. O dinheiro é utilizado apenas para pagar salários e não há investimento nas categorias de base. “No Amazonense deste ano, o Governo do Estado prometeu R$ 1 milhão antes da abertura. Mas na hora de repassar (após a competição), o valor foi reduzido em 60% dividido entre a Federação (Amazonense de Futebol-FAF), a arbitragem e os clubes. O São Raimundo ganhou, no final, R$ 50 mil e conseguiu saldar contas pendentes”, revelou o presidente do Tufão, Orlando Saraiva.

O dirigente faz uma mea culpa ao reconhecer a falta de organização do futebol profissional em captar e administrar os próprios recursos. “Acho que os clubes já deviam viver independente da verba pública, mas falta união dos dirigentes dos times e da federação para obter dinheiro. Todo  ano o governo dá apoio financeiro, mas o ideal é receber antes de começar o Estadual”, lembrou Saraiva, que prevê no mínimo R$ 100 mil por mês para o São Raimundo disputar o Amazonense 2012.

No Fast, o vice-presidente Cláudio Nobre endossa a auto crítica de Saraiva. “Os clubes não se organizam. O futebol do Amazonas, para sair de onde está (na Série D do Brasileiro), precisa de ajuda do governo (do Estado) e prefeitura (de Manaus). Não tem saída, se não for assim os times serão obrigados a investir menos na formação dos elencos e o nível do futebol vai piorar”, analisou o dirigente do Tricolor. Nobre lembra que Princesa do Solimões e Operário (Manacapuru), Penarol (Itacoatiara), Grêmio (Coari) e CDC (Manicoré) têm patrocínios das prefeituras. Mas é o marketing para os municípios do interior.

Interior reforça coro por verbas

Igual em número de participantes com a capital, o interior mantém o coro por dinheiro público. O Penarol, de Itacoatiara (a 176 quilômetros de Manaus), vai disputar o inédito tricampeonato amazonense. O vice-presidente, Ila Rabelo, cita outros governos que também gastam dinheiro público com os torneios regionais. “Prefeitura e empresários devem ajudar. Os governos do Pará, Acre e Tocantins ajudam seus clubes, por que o Amazonas também não pode? Mas a verba tem que vir antes da competição”, enfatizou Rabelo, ao lembrar que o Penarol precisou abrir mão da contratação de novos jogadores para as oitavas de final da quarta divisão do Brasileirão, este ano, fase na qual o time foi eliminado, devido à demora no pagamento dos valores prometidos pelo Bradesco e Coca-Cola, R$ 500 mil de cada.

Esse dinheiro foi de renúncia fiscal. O Bradesco disponibilizou a verba antes da abertura da competição. Mesma pressa não teve a Coca-Cola, que liberou a parte dela perto do final da primeira fase.

Com praticamente o ano inteiro de atividades, o clube da Velha Serpa calcula R$ 150 mil mensais em gastos para manter um plantel para as três competição de 2012: Copa do Brasil, Estadual e Série D do Brasileirão.

“Com um campeonato de apenas de três meses (Amazonense) é impossível sobreviver assim. Não tem como formar jogador para vender depois. O Governo tem que ajudar todos os clubes, no mínimo com R$ 300 mil para cada. No futebol brasileiro, nenhum clube vive por conta própria”, declarou o dirigente, desconhecendo a realidade do futebol nacional. A maioria dos clubes, profissionais, se mantém com venda de jogadores e patrocínios, além da cota de transmissão da TV.

Para Rabelo, a federação precisa tornar mais atrativo a competição para os filiados. “Boa premiação para o campeão e vice seria uma grande  motivação. Tentaram este ano, mas não deu certo porque a verba do governo chegou depois”, relembrou.

Nacional vai apostar alto na Copa do Brasil

Atual vice-campeão Estadual e classificado à Copa do Brasil de 2012, o Nacional calcula um gasto de R$ 150 mil mensal, em média, para formar um time competitivo. “A ideia é montar um elenco com 25 jogadores. Futebol é dinheiro. Não é quem queremos trazer, mas quem podemos”, declarou o presidente do Leão da Vila Municipal, Luís Mitoso.

Na disputa da Copa do Brasil, Mitoso admite um investimento de risco bem mais elevado. “Como vou trazer um jogador diferenciado para a Copa do Brasil, que ganhe R$ 20 mil de salário, se de repente fizermos só um jogo (na primeira fase três gols de diferença do clube visitante eliminam o jogo de volta)? Temos que trazer mais jogadores de qualidade, mas nesta hipótese, falo num custo de R$ 500 mil (por mês)”, projetou Mitoso.

Ainda segundo o presidente do Naça, os clubes amazonenses não têm outras fontes de renda seguras para seguir no Estadual sem respaldo do poder público. “Não temos público e nem renda. Um estádio de cinco mil pessoas (capacidade do Estádio Roberto Simonsen, do Sesi, único disponível para os jogos do Estadual em Manaus após a demolição do Vivaldo Lima para a Copa de 2014), com ingressos a R$ 10, ainda tendo que dividir com o outro clube? É difícil ter lucro assim”, comentou Mitoso.

Vereador em Manaus, Mitoso segue a cartilha do ‘bom’ político. “O que não pode é a competição ser bancada toda pelo poder público. Queremos ajuda, não ser sustentado. O futebol amazonense é completamente amador. Tem dirigente tirando dinheiro do próprio bolso para bancar todos os custos”, afirmou. Essa ajuda já dura quase tres décadas no futebol amazonense.

Rio Negro é exceção à regra

O quase centenário Rio Negro, rebaixado duas vezes à Série B do Estadual (2008 e 2009), é o único que pretende evitar o dinheiro público. “Já temos 50% garantido do orçamento, como salários, transportes, uniformes, encargos sociais e quadro móvel”, comentou o presidente do Galo, Eymar Gondin. “Não contamos com ajuda do governo para fechar nossa receita. Se vier, melhor. Mas se não, paciência”, garantiu o dirigente.

“Neste ano, os atletas ganharam por salário mínimo (R$ 545), mas no Estadual de 2012 será acertado folha salarial diferenciada. Nosso planejamento já está definido. O técnico Adinamar Abib e o preparador físico Ronaldo Sperry formaram uma lista para apresentar os jogadores”, explicou o presidente do Alvinegro, que planeja 23 jogadores no máximo no grupo, sendo três goleiros.

Fonte: http://wblogs.d24am.com/esportes/futebol/clubes-locais-na-eterna-dependencia-do-dinheiro-publico/41304

 

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