“Leseira Baré” impediu a transmissão de TV da Segundinha e da final da Série D

        É comum ouvir torcedores apontarem, como causas do péssimo momento do futebol local,  a falta de investidores, o baixo interesse da população, e, principalmente, a pouca atenção que os clubes recebem na imprensa local. E como mudar este quadro?

      Se um dos três (investidores, população, imprensa) resolvesse apoiar o futebol amazonense, acabaria levando os outros dois a fazer o mesmo. Se, por exemplo, um empresário resolvesse dar um bom patrocínio a um clube, este iria poder investir em estrutura, em contratações, e o investimento acabaria tendo resultados dentro de campo, com títulos estaduais e boas campanhas a nível nacional, o que atrairia a atenção da população e da imprensa.  Em outro caso, se a população de repente resolvesse apoiar em peso um clube, a imprensa acabaria tendo que dar atenção a este clube, para atender o interesse da população, e os investidores acabariam vendo nos estádios lotados e no espaço na mídia, uma oportunidade para divulgar sua marca.

        E se é a imprensa que resolve divulgar o futebol local, transmitindo os jogos, por exemplo, podemos fazer a mesma associação, e acreditar que essa divulgação vai atrair a atenção de investidores e da população, contribuindo no crescimento dos clubes. Mas não é assim que pensam alguns dos dirigentes de clubes do nosso estado.

     O canal Amazon Sat, da Rede Amazônica (repetidora da Rede Globo) teve interesse em transmitir os jogos do Campeonato Amazonense da Segunda Divisão deste ano. Seria uma ótima notícia para os 5 clubes que disputariam o campeonato, certo? Poderiam atrair novos patrocinadores, já que com a camisa do clube aparecendo na TV, seria infinitamente mais fácil conseguir uma empresa interessada em colocar sua marca nela. Também poderiam atrair novos torcedores, já que uma das causas que mais influenciam a população do Amazonas a torcer para clubes de fora, é a facilidade de assistir aos jogos desses clubes na televisão, e o fato de simplesmente não conhecerem os clubes do nosso estado. Além disso, a transmissão da TV divulgaria para outros estados o talento de jogadores, técnicos, preparadores físicos e demais profissionais envolvidos, valorizando o trabalho deles e ajudando em futuras negociações.

      À época da negociação do Amazon Sat com os clubes, o presidente do Tarumã, José Correia da Silva, demonstrou exatamente essa visão a médio e longo prazo, em declaração que deu ao Diário do Amazonas: “Nós podemos colocar os garotos em evidência e como todos têm contrato de dois anos, quem sabe possamos lucrar com a venda de jogadores?”, disse Zezinho.

      Infelizmente, nem todos os dirigentes tem a mesma visão. Segundo o vice-presidente do Grêmio Coariense, Williams Barbosa, “Não queremos nada exagerado, mas algo que possa ajudar e mostrar a realidade do nosso futebol. Nós precisamos discutir e saber qual será o retorno financeiro”, declarou, demonstrando pensar apenas no dinheiro que ajudaria a pagar as contas daquele mês. O mesmo pensamento pequeno tiveram os demais dirigentes, e a negociação acabou não sendo concretizada, pois os clubes não aceitaram a proposta financeira do canal, e preferiram deixar a competição na obscuridade e no esquecimento do torcedor, em jogos que às vezes contavam com menos torcedores na arquibancada que jogadores em campo.

     Você sabia que poderia ter assistido o primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro da Série D, entre América e Guarany-CE em Santarém-PA no conforto da sua casa, sentado no sofá em frente a TV, em vez de suar o ouvido no velho radinho de pilha ou passar duas horas em frente ao computador acompanhando o jogo pelas mensagens no twitter do @FutebolAM? O Amazon Sat novamente tentou transmitir o jogo de um clube amazonense, mas o clube, por motivos que estão além da minha compreensão, não permitiu. Foi por água abaixo todo o esforço de pessoas como o torcedor Igor Cosso, da Jovem América, que fez o possível para intermediar e viabilizar o negócio. Ouvi de uma pessoa ligada ao Amazon Sat, que durante a negociação, os representantes do clube só falavam de dinheiro.

    É compreensível que, vivendo tanto tempo de migalhas e fazendo malabarismos para conseguir pagar as contas, os clubes do nosso estado tentem conseguir dinheiro em todas as oportunidades, mas é inadmissível e imcompreensível que o clube, que só teria a ganhar com a transmissão, mesmo que ela fosse de graça, impeça o negócio, dando um tiro no próprio pé e frustrando a população que estava ansiosa para assistir o jogo. Preferiram continuar indigentes, e não ganhar dinheiro nenhum com isso, do que ganhar pouco dinheiro e ter seu nome e trabalho divulgados. Me pergunto como eles pretendem conseguir patrocinadores assim. Quem pagaria para colocar sua marca numa camisa que ninguem vai ver? Se eu fosse empresário, ficaria com dois pés atrás ao pensar em patrocinar um clube que dispensa uma transmissão de TV.

    Enquanto a Leseira Baré, doença que acomete grande parte dos dirigentes amazonenses, não tiver cura, nosso futebol não vai se desenvolver. Enquanto pensarem pequeno achando que são grande coisa, nossos clubes não vão crescer. O interesse da imprensa e da população no futebol do nosso estado cresceu consideravelmente após o anúncio de que Manaus seria sub-sede da Copa do Mundo, mas esse interesse vai passar junto com a Copa, se os clubes não souberem aproveitar a oportunidade.

Thiago Henrik – FUTEBOLAMAZONENSE.COM.BR