Iranduba tentra driblar dificuldades para representar o Amazonas na Copa do Brasil

quarta-feira, 17 de agosto de 2011 Comments

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Proibido pelo Decreto-Lei nº 3.199 de 1941, revogado apenas em 1975, o futebol feminino no Brasil viveu à margem da lei. Hoje, é praticado à sombra do masculino e na condição de amador pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Esse tratamento se reflete nas equipes como a do Iranduba da Amazônia, único representante do Amazonas na Copa do Brasil da categoria, única competição oficial da modalidade no País.

O Iranduba não é um clube, mas um time formado para disputar a competição que começa nesta quinta-feira (18). Nessa situação, as jogadoras treinam em campos de terra, à noite e com iluminação precária. Divididas entre trabalho e estudo, não há tempo para preparação física e o condicionamento passa longe do ideal. Não há acompanhamento médico, mas um fisioterapeuta voluntário dá assistência. Também não recebem salários e nem assinam contrato. “Temos 20 jogadoras no elenco, o ideal seria ter mais cinco. Mas damos um ajuda de custo e vales-transporte”, disse o técnico Olavo Dantas, que em 2010 foi supervisor de futebol do São Raimundo-AM no torneio nacional.

Com ajuda do preparador físico José Said, ex-Fast e América, o treinador realiza um trabalho de abnegação. Primeiro Sargento do Exército, Dantas conseguiu a liberação do campo da Associação dos Sargentos da Amazônia (ASA), outro no Centro de Instruções de Guerra na Selva (Cigs) e um no 2º Grupamento de Engenharia de Construção do Exército para os treinos da equipe. Said contribui com água, gelo e frutas para ajudar na hidratação e reposição de energia das atletas.

Dantas admite que as condições de trabalho não são as ideais. “Não há investimentos das empresas de Manaus porque os times são montados para competições de curto prazo. Ninguém vai gastar mais de R$ 30 mil por mês, por exemplo, para pagar salários sem saber se há retorno. Afinal, na Copa do Brasil é mata-mata. Se for mal nos dois jogos iniciais, o time está fora e os gastos continuam porque os contratos para jogadores profissionais são no mínino de três meses”, lembrou o treinador.

A profissionalização das equipes femininas no Amazonas para a Copa do Brasil é dificultada pelo perfil da maioria das jogadoras. Elas são industriárias, com carga de oito horas por dia de trabalho nas empresas do Distrito Industrial. Outras são universitárias, algumas mães de família ou donas de casa.

“Não dá para ser diferente. Fugir disso é praticamente impossível. Não vou montar um time com jogadoras de apenas 16 anos (idade mínima para disputar a Copa do Brasil) para evitar contratempos. É a maior competição da categoria no Brasil, queremos vencer”, afirmou Dantas. O treinador admite que há um abismo entre querer e conseguir. Nessas condições, participar já é um milagre.

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Amor ao futebol motiva jogadoras

O Iranduba estreia quinta-feia (18) contra o São Raimundo, em Boa Vista-RR. Até lá, as concessões no time têm aumentado. No treino, da última quarta-feira (10) à noite, apenas sete das 20 jogadoras compareceram. “No grupo, 70% das nossas jogadoras têm outras obrigações. Não vou pedir para largarem tudo e se dedicarem só aos treinos, como acontece no masculino. Temos que ter compreensão porque são muitas variáveis”, reconheceu Dantas.

A centroavante Francilene Souza, a Fran, de 30 anos, é uma das atletas nessa condição. Ela vai disputar a terceira Copa do Brasil após estrear em 2007 pelo Rio Negro e defender o São Raimundo no ano passado. “Estamos tendo dispersão agora no grupo, porque realmente há jogadoras com outros compromissos. Algumas estão ocupadas disputando os Jogos Industriários por suas empresas. Então, precisamos lidar com isso. Mas todas estão aqui por amor ao futebol”, declarou Fran.

Com residência fixa em Manaus, a gaúcha Maria Rosa Costella, 28, é uma das atletas do Iranduba da Amazônia com jornada dupla para conciliar o trabalho na linha de montagem de uma empresa no Polo Industrial (PIM) com os treinos no final do dia. “Acordo às 3h45 da manhã. Começo na linha de produção às 6h e vou largar lá pelas 16h (dez horas de trabalho). Aproveito a rota de volta para chegar no local do treino e assim mantenho a rotina que, apesar de cansativa, gosto pelo clima de união do grupo, a visão tática do treinador e por paixão ao futebol mesmo”, disse Rosa, que também jogou pelo Tufão, em 2010.

Fonte: Diário do Amazonas

 

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