Ivan Guimarães admite falhas da FAF, mas alega que federação cumpre suas obrigações administrativas, embora não consiga vender o campeonato para patrocinadores.
BRUNO TADEU – D24AM.COM - Desde a década de 80 trabalhando no futebol amazonense e há quatro anos como diretor da Federação Amazonense de Futebol (FAF), Ivan Guimarães admite falhas da entidade e revela problemas que impedem melhorias para o esporte no Estado. Com a ausência do presidente Dissica Valério Tomaz, que também é prefeito do município de Eirunepé (a 1.160 quilômetros a sudoeste de Manaus) desde 2005, Guimarães foi quem respondeu pela FAF durante um período de decadência. Ele argumenta que as sucessivas eliminações dos times do Estado em competições nacionais e a falta de estádios em Manaus são os fatores que colaboraram com a condição atual, mas não apresenta perspectivas de mudança.
A imagem desgastada do futebol do Estado se reflete na Federação Amazonense de Futebol (FAF). Não há nenhum interesse da entidade em melhorar essa imagem?
Ivan Guimarães - O futebol do Amazonas ficou nessa situação a partir de 2007, após a queda do São Raimundo para a Série C. Desde então, o torcedor ficou desmotivado. Nos anos seguintes, os times do Estado estagnaram na Serie D, quase sempre eliminados na primeira fase. Isso chateou o torcedor. Mas, já em 2010, acho que começamos a resgatar a imagem positiva porque os torcedores começaram a voltar aos poucos. A FAF tem sua parcela de culpa no que aconteceu, mas temos que analisar todos os pontos.
Onde você reconhece que a FAF tem culpa?
Ivan - É difícil falar nas falhas. A gente tem procurado ajudar da melhor maneira possível. Muitos falam que a FAF não ajuda os clubes como se nós tivéssemos alguma culpa nesse ponto. As federações do Sudeste, por exemplo, são fortíssimas porque elas administram o recurso dos estaduais. Durante os últimos três anos eu tentei vender nosso futebol e não consegui. A falha é essa. Mas, agora, como podemos vender se não temos local para que prestigiem o produto?
O que mais tem atrapalhado sua busca por patrocinadores?
Ivan - A falta de praças esportivas. Em Manaus, jogamos futebol hoje graças à boa vontade dos representantes do Sesi. Mesmo assim, tem a dificuldade do torcedor de comparecer. Nosso único estádio da cidade fica na zona leste, então nem todos podem se locomover. Fazendo um apanhado, temos a nossa culpa, mas precisamos analisar a situação e dividir as falhas com todos. Não fosse o Sesi, nós não teríamos lugar pra jogar em Manaus nos últimos anos. Por isso o interior cresceu. As prefeituras de lá ajudam também.
Existe algum planejamento para mudar esse cenário na capital amazonense?
Ivan - Na hora em que nós tivermos a Colina reformada e a prefeitura fizer um estádio municipal, porque uma cidade com quase 2 milhões de habitantes tem que ter um estádio. Até Rio Preto da Eva tem o seu, que é pequeno, mas ajuda muito. Você não ouve falar que a prefeitura tem alguma intenção de criar um estádio municipal.
A FAF já se reuniu com a prefeitura para tentar solucionar esse problema?
Ivan - Conversamos com o prefeito Amazonino Mendes e ele foi enfático em dizer que não tem intenção nenhuma de construir um estádio municipal. Tanto é que eles gastam tanto dinheiro com eventos caros e que duram uma semana ou menos e não deixam nenhum legado para cidade.
E o que a FAF tem feito para colaborar com o crescimento do futebol amazonense em meio a esse impasse?
Ivan - São pontos que até passam despercebidos. Antes de chegarmos à FAF, cada clube era obrigado a levar duas bolas para os jogos. Ai cada um comprava de um tipo diferente e queria jogar com a sua bola. Hoje, o nosso campeonato tem uma bola padrão. Na final do ano passado, até personalizada ela foi. Temos um contrato com a Penalty até 2014 e ela nos fornece 120 bolas, usadas em todos os campeonatos da federação. Se eu precisar, eles me mandam, pois são parceiros. Somos tratados iguais com relação a outros Estados.
E com relação à arbitragem?
Ivan - Antes, a FAF tinha muitos problemas com relação a isso, uma divida altíssima com os árbitros. Cheguei aqui com a federação devendo R$ 100 mil. Hoje, quitamos as dividas com eles. Os clubes deixavam para pagar a arbitragem após os jogos, mas a renda nem sempre dava. Agora, os nossos árbitros estão recebendo antes do jogo acontecer. Não estamos fazendo nenhuma propaganda disso, mas é sinal de evolução.
A ausência do presidente Dissica Valério Tomaz não é um fator que colabora para o atual quadro do futebol na região?
Ivan - Muitos falam da ausência do presidente, mas tudo o que acontece aqui ele tem conhecimento. Não podemos negar também que a FAF tem realizado todas as competições, cumprindo seu calendário. Mesmo ele não estando aqui, tudo é cumprido. E você vê que nossos campeonatos começam e terminam e não abandonamos no meio do caminho. Todos os nossos compromissos são cumpridos e pagos rigorosamente em dia.
Quais são as perspectivas da federação quanto ao futebol do Amazonas?
Ivan - Exigir grandes investimentos das equipes não é possível, a não ser que os clubes consigam patrocínios bons. A renda nos estádios deveria ser para pagar só as despesas, mas a nossa realidade não é essa. Pra formar grandes equipes, os clubes teriam prejuízos porque o maior estádio da cidade tem capacidade para 3 mil pessoas. A renda máxima seria 30 mil. Quem é que pagam com esse valor? Mesmo assim, sou eternamente otimista com a reforma da Colina e com a construção de um estádio municipal. Temos que aproveitar também o ano da Copa para tentar alavancar nosso futebol com a Arena da Amazônia.
Fonte: http://www.d24am.com/esportes/futebol/futebol-amazonense-e-dificil-de-vender-ate-para-torcedor-local/49466